O Paciente, o Médico e o Mar

O Paciente, o Médico e o Mar


A Medicina é como ondas que se constroem para logo em seguida se desconstruir. O médico que não percebe e vive isso, deixou de sê-lo.

O médico é ou tem que ser um cientista. Porque antes de tudo a gente é um observador da natureza, que é de onde nasceu a ciência. No nosso caso em específico, a natureza através do ser humano. Ver como o paciente se movimenta, suas expressões faciais, sejam de dor, tristeza, alegria, desconfiança, da alegria da vida ou do medo da morte. Percebemos a postura de alguém disposto ou de quem já se entregou. Vemos se é alto, ou baixo, gordo ou magro, a cor da pele, as alterações dos cabelos e unhas. Ouvimos suas histórias, suas tristezas, frustrações, suas conquistas através da voz firme, às vezes rouca, por vezes, fraca. A voz mostra alguém decidido ou reticente. Sentimos o cheiro do hálito de quem fumou ou bebeu, também sentimos o cheiro do diabetes mal compensado, ou de quem passa fome. Também sentimos através da palpação do pulso que bate rápido, os tumores, a fraqueza muscular, o ranger e inchaço das juntas, a frieza e o calor da pele. Pensamos no que pode ser e no que podemos fazer para melhorar a vida de quem está sofrendo.

Mas a gente não para por aí, isso a maioria das pessoas faz em maior ou menor grau. Um médico de verdade vai além disso. Lembramo-nos de casos parecidos, ou das histórias dos nossos colegas e professores, lemos em artigos e livros para termos maior grau de certeza sobre o que paciente tem e o que dar de melhor para aquele ser humano que depositou em nós a confiança. Quando a gente não acha a resposta específica para as nossas dúvidas, a gente faz o que um bom cientista faz, dá asas à imaginação. Pensa no que pode estar acontecendo e no que pode explicar da forma mais completa possível a situação. Contamos aquela nossa história para outros colegas, seja através de uma conversa, reunião ou mesmo relatando em uma revista. Coletamos vários casos parecidos. Analisamos o que foi feito, e o que aconteceu de acordo com cada conduta. Supomos qual tratamento é o melhor. Comparamos os novos casos em homens e mulheres, diferentes idades e situações e vemos quem melhorou ou não, ou mesmo quem piorou de acordo com o tratamento que recebeu. Se não soubermos quem recebeu e quem não recebeu o tratamento, diminuímos as chances de fazer com que as nossas ‘crenças’ interfiram nos resultados, fazendo com que nossas análises sejam muito mais confiáveis em diferentes situações. A gente pega vários estudos sobre o assunto e analisa para ver se ‘juntando’ todos, temos resultados parecidos com cada um deles individualmente. Por fim, se reúnem especialistas e pesquisadores com os resultados desses estudos e publicam recomendações que serão publicadas em artigos e livros. Estas serão lidas pelo médico que acabou de ver um novo paciente, único, como uma onda. Mais ou menos diferente daquilo que está escrito, e voltamos ao início desse ciclo.



Hoje, neste mar de informações em que estamos mergulhados, alguns quase afogados, primeiro, acalme-se. Quem está se afogando tem maior risco de morrer quando gasta sua energia e esforços sem saber o que está fazendo. Quem tem experiência com resgaste sabe que não pode se aproximar de qualquer forma. É necessário aproximar-se sem chamar atenção e tentar acalmar quem está à deriva. Confie em quem te tranquiliza, em quem te vê, te escuta e sente. Confie em quem já viu situações parecidas, em quem tem bons colegas e professores. Confie no estudioso e no médico dedicado, que lê e tem conhecimento sobre pesquisa. Confie também naquele que tem imaginação, que tem o espírito da ciência e da honestidade. Duvide de qualquer um que tenha 100% de certeza. Lembre-se de que estamos no mar e mesmo o melhor marinheiro respeita sua inconstância e sabe navegar neste barco chamado Ciência utilizando a força e direção vento.

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